Os últimos dias não têm sido uma “calmaria” para a eterna miss bumbum, Andressa Urach. De escândalos aos púlpitos de igrejas, sua vida vai de um extremo ao outro em um piscar de olhos. De sexo com animais, estupro, drogas, orgias, promiscuidade, inúmeras cirurgias plásticas e busca de holofotes a vestimentas contidas de mulheres religiosas. Para quem acompanha a famosa, isso é “tudo pela fama”, como a própria modelo diz.
Durante os últimos 10 anos, semanalmente, se ouviu falar nos canais de comunicação sobre algum devaneio criativo da musa para “aparecer”. Segundo a celebridade, ela “fazia de tudo para ter algo sobre mim na mídia semanalmente”.
Há alguns anos, após o seu estado de “quase morte” devido a aplicação de um produto proibido para humanos em seu corpo, Andressa deixou o “mundo da prostituição” para se tornar evangélica, pertencendo a uma das igrejas mais influentes do mercado financeiro e de comunicação no mundo, a Igreja Universal do Reino de Deus, presidida pelo bispo Edir Macedo.
Enquanto parte da membresia, ela lançou um livro que foi best-seller com mais de 1 milhão de cópias vendidas em todo o território nacional. Seu testemunho de conversão virou páginas de revistas e sites. Todo mundo queria falar com Andressa Urach.
Recatada, discreta e dizendo-se “eleita de Deus” para uma obra que influenciaria uma geração, ela seguiu pregando o evangelho, falando seu testemunho de fé, e por anos todo mundo pensou que sua ida para a igreja a colocaria nos “trilhos”, já que o “tsunami” não era parado por qualquer um. Porém, após uns anos, todo seu senso de espiritualidade deu lugar aos tribunais, onde a celebridade exige em Justiça o reembolso de 2 milhões de reais de dízimos e ofertas, além de um carro de luxo da igreja que chamou de “casa”.
Nesse ínterim, Andressa casou-se com um homem que, segundo a mesma, “é o grande amor de sua vida”, porém fomos surpreendidos com o penúltimo capítulo dessa história. Grávida do seu segundo filho, chegou a conhecimento de todos o fim de sua história de amor, com direito à suposta tentativa de suicídio, possível abortamento intencional e internação em clínica psiquiátrica devido ao quadro de transtorno de personalidade borderline.
Ela veio a publico. “Estou passando dificuldades financeiras desde que deixei a igreja universal, me sinto roubada, usada e enganada”, disse. “Lidar com a raiva, para mim, é algo muito difícil e estou com muita raiva da igreja universal. Já implorei para me devolverem meus 2 milhões e eles ignoraram. Eles são muito, muito ricos e meu dinheiro está me fazendo muita falta. O senhor só está preocupado com o dinheiro e sua filha Cristiane é igual ao senhor. Se minha alma for para o inferno, a culpa é do senhor Bispo Macedo e principalmente da tua filha Cristiane Cardoso. Ela sabe o que fez comigo”, acrescentou.
Neste cenário, Urach relatou sofrer de Borderline. O transtorno de personalidade borderline faz a pessoa ir “do céu ao inferno” na mesma hora. É como se fosse a fusão de “dois mundos em uma mesma pessoa”. Quem sofre com isso é capaz de tudo para não se sentir abandonado. Uma euforia pode se transformar em dias de calamidade e de profunda tristeza em um “virar de chaves”, porque alguém pisou na bola, prometeu algo e não cumpriu.
O amor desvairado vira ódio descabido, porque a atitude de alguém foi interpretada como uma avassaladora traição. É como “sair dos trilhos” inesperadamente, e tudo que estava em “paz e harmonia” vira um grande pandemônio, podendo levar a escândalos e atentados contra a própria vida. Após este evento, dá vontade de se automutilar, drogar-se, depreciar-se ou até a morte vira, por um breve momento, um alívio para quem vive os exageros do borderline.
O transtorno de personalidade limítrofe, mais conhecida como borderline, é um dos transtornos de personalidade classificados pelo DSM 5 – manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais – como um dos mais difíceis de lidar tanto com a família, como de forma terapêutica ou farmacologicamente.
Cerca de 10% dos pacientes chegam ao suicídio. É como se fosse viver anos dentro de uma montanha-russa de impulsos emocionais e da legítima dificuldade de conter ou controlar seus impulsos. É “tudo ou nada”. Os borders são tão instáveis que tornam todos os tipos de relações íntimas, sendo elas casamento, família, amizade, trabalho e assessoria médica e terapêutica um grande desafio, pois são extremamente desgastantes.
Vários artistas de renome internacional já relataram possuírem o mesmo transtorno, tais como Britney Spears, Amy Winehouse, Demi Lovato, entre tantas outros. A personalidade do border é marcado por esse “psicológico imaturo”, pois por mais inteligente, capaz, talentoso e brilhante que seja, as reações desse paciente são como de um adolescente “mimado”, levando-o a comportamentos autolesivos.
A cenas protagonizadas por Andressa Urach, como a tentativa de suicídio, fizeram vir à tona o questionamento sobre diversas situações estarrecedoras que ocorreram antes de ela entrar para a igreja, que com o diagnóstico de borderline, justifica todas as ações controversas que a artista revelou em seu livro. O border é assim, intenso.
De fato, Urach não está aproveitando a oportunidade de mostrar o outro lado da “moça de família” que tanto pregou durante sua estadia na igreja. Percebe-se que a mesma não sabe lidar bem com a rejeição ou quando se sente pressionada, desenvolvendo assim vários rompantes, como um “surto de raiva e ira” em um ato de extrema impulsividade, ignorando tudo que tentou construir de sua imagem até aqui, impossibilitando a tentativa de minimizar seu estilo “inconstante”, como se fosse um ato de incoerência, devido às diversas tentativas oriundas de suas redes sociais, onde tenta parecer “religiosa e cristã”.
Mesmo em um ato de “pedido de socorro” após perceber que os seus limites foram ultrapassados, Andressa não transparece confiabilidade e arrependimento, ainda mais nesse processo de limpeza de imagem, em meio a brigas nos tribunais para reintegrar sua fortuna ao seu domínio.
A celebridade ex-gospel está mostrando que é uma pessoa um pouco desequilibrada com rompantes violentos. É claro que não podemos julgar essa questão da tentativa de suicídio e aborto, mas devido a esse comportamento inconstante, isso nos leva a pensar nas dificuldades que é sobreviver com um diagnóstico de borderline. O border vive exatamente desse “jeitinho”, sempre a deriva de exageros.
Esse texto é para nos fazer, de um modo humanizador, entender as limitações de um border. Suas dificuldades limitam suas ações e as projetam para um lado que, na verdade, se o paciente tivesse um domínio próprio mais trabalhado, não seria tão fulgaz. Por isso, é importante entendermos que boderline não tem cura, mas existe uma gama de terapias e fármacos que podem ajudar a sair desse intenso vendaval, ou melhor, ajudar a entender como é sobreviver dentro desse tsunami de emoções.
José Fernandes vilas – Neurocientista e autor do livro “Quando o sucesso vira burnout: A síndrome do esgotamento profissional”.