O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem se posicionado de forma contrária às penas severas aplicadas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

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Ele argumenta que as punições, que chegam a 17 anos de prisão, são excessivas e violam o princípio da proporcionalidade das penas. No entanto, seus apelos não foram acolhidos pelos demais ministros da Corte.

Divergência no Supremo

Desde o julgamento do primeiro réu envolvido na invasão, Mendonça tem se mostrado contrário à interpretação dominante no STF de que os acusados devem ser condenados pelos crimes de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito simultaneamente. Para ele, esses dois crimes se sobrepõem e um absorveria o outro, evitando a duplicidade de condenações pelo mesmo ato.

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Apesar de seu posicionamento, a maioria dos ministros manteve o entendimento de que os réus deveriam ser punidos por ambos os crimes, o que contribuiu para a aplicação de penas mais altas. Um dos condenados, Aécio Lúcio Costa, ex-funcionário da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), recebeu 17 anos de prisão.

Efeito cascata nas futuras condenações

Interlocutores do Supremo apontam que a preocupação de Mendonça pode estar ligada a um efeito cascata. Com penas elevadas aplicadas a manifestantes considerados massa de manobra, há um precedente para que figuras mais influentes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ex-candidato a vice, Walter Braga Netto, recebam punições ainda mais severas.

Na última terça-feira (18/02), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou denúncia contra Bolsonaro, Braga Netto e outras 32 pessoas, acusando-os de envolvimento direto em uma suposta tentativa de golpe de Estado. Os crimes apontados incluem:

Organização criminosa

Abolição violenta do Estado democrático de direito

Golpe de Estado

Dano qualificado ao patrimônio público

Deterioração de patrimônio tombado

Entre os principais acusados, há cinco militares de alta patente e dois delegados da Polícia Federal, reforçando a gravidade da denúncia. Segundo a PGR, cada um tinha uma função específica na tentativa de manter Bolsonaro no poder.

Estrutura da suposta organização

De acordo com a denúncia da PGR, a trama foi dividida em cinco núcleos operacionais, com tarefas distintas:

1.Núcleo de comando – Responsável pelo planejamento do golpe, incluindo ministros e generais próximos a Bolsonaro.

2.Núcleo operacional – Implementaria as ordens, incluindo bloqueios de rodovias e ataques contra autoridades.

3.Núcleo de desinformação – Espalharia teorias conspiratórias para minar a credibilidade do sistema eleitoral.

4.Núcleo jurídico – Criaria argumentos legais para dar legitimidade ao movimento golpista.

5.Núcleo de influência – Formado por influenciadores que atacavam militares que não apoiavam a conspiração.

Com a formalização das denúncias e a possibilidade de condenações futuras, o Supremo Tribunal Federal enfrenta uma de suas maiores decisões políticas e jurídicas. Caso Bolsonaro e seus aliados sejam condenados, as penas poderão ultrapassar as já aplicadas aos primeiros réus dos atos de 8 de janeiro.