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sábado, maio 4, 2024

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‘Narcopentecostalismo’: Traficantes evangélicos pagam dizimo e financiam shows gospel

Os líderes do tráfico que controlam as favelas de Parada de Lucas, Vigário Geral e outras três comunidades na Zona Norte do Rio de Janeiro adotaram símbolos bíblicos como seus principais emblemas.

A facção se autointitula “Tropa de Arão”, em alusão à figura cristã irmão de Moisés. A estrela de Davi está presente em muros e bandeiras nas entradas das favelas e até em um néon no alto de um reservatório de água na comunidade de Cidade Alta.

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O líder do grupo criminoso nomeou o território “Complexo de Israel”, em referência à “terra prometida” para o “povo de Deus” na Bíblia, de acordo com a polícia.

Inicialmente, o grupo controlava o tráfico em Parada de Lucas e expandiu seu domínio para comunidades vizinhas. Atualmente, a Tropa domina o tráfico nas favelas de Cidade Alta, Pica-pau, Cinco Bocas e Vigário Geral, conforme informações da polícia e centros de pesquisa em segurança pública.

O Complexo de Israel é emblemático de um fenômeno que pesquisadores denominam “narcopentecostalismo” – não apenas o surgimento de traficantes evangélicos, mas também a influência dessa religião na disputa por territórios no Rio de Janeiro.

Kristina Hinz, cientista política e pesquisadora do Laboratório de Análise da Violência da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), e doutoranda na Free University de Berlim, explica que o termo “neopentecostalismo” é usado por diversos estudiosos para analisar o fenômeno de narcotraficantes que adotam religiões neopentecostais, até mesmo em suas atividades criminosas.

A conversão pessoal e a religião desempenham um papel estratégico na manutenção do poder e na disputa por territórios, segundo pesquisadores. A comunidade evangélica tradicional rejeita a ideia de que um traficante possa ser evangélico.

O pastor Carlos Alberto, que atua há 17 anos na favela da Cidade de Deus e já foi traficante, afirma que um líder religioso sério não aceitaria a associação entre a fé e atividades ilegais e imorais. Segundo ele, para ser considerado evangélico, a pessoa deve abandonar tudo o que é contrário aos princípios bíblicos, morais e éticos.

Entretanto, os traficantes ligados ao neopentecostalismo não apenas se autodeclaram religiosos, mas também participam ativamente da vida religiosa, segundo estudiosos.

O chefe do tráfico no Complexo de Israel, por exemplo, é alvo de 20 mandados de prisão por homicídio, tortura, tráfico, roubos e ocultação de cadáver. Ao mesmo tempo, ele se considera evangélico, espalhou referências religiosas pela região e mantém amizades com pastores, conforme a polícia.

Kristina Hinz ressalta que tais traficantes participam da vida religiosa evangélica, frequentando cultos, pagando dízimos e até financiando apresentações de artistas gospel na comunidade.

A influência de religiões sobre as dinâmicas de poder do tráfico não é uma novidade, afirmam pesquisadores, e não se limita ao protestantismo. Porém, a conversão de traficantes ao pentecostalismo é um fenômeno com características próprias, especialmente em um país que caminha para ter a maioria de sua população evangélica na próxima década.

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